Monday, June 16, 2008

PY = ZAT


Rodrigo Morais

Uma operação de guerrilha que libera uma área de espaço, tempo ou imaginação. Esta é uma das possíveis definições para a Zona Autônoma Temporária. Seria o PY uma ZAT? A pergunta se torna mais interessante com a exposição PYrata, pois as “utopias piratas”, comunidades fora da lei estabelecidas em ilhas remotas, figuram entre os exemplos históricos de ZATs, ou proto-ZATs.

Levar a arte a lugares não-convencionais, a espaços temporariamente ativados é proposta do PY. Neste caso, à barca Rio-Niterói. Na “operação” PYrata, os alvos da liberação são o espaço físico da barca, o tempo da viagem e a própria subjetividade de cada passageiro – transformados pela irrupção de um festival que os desloca da normalidade cotidiana.

É fácil notar que o PY constitui um bando, a estrutura social mais propícia ao surgimento da ZAT. Ao contrário da família, fechada em laços de consangüinidade, o bando tem como características a horizontalidade e a abertura por laços de afinidade. Neste aspecto, diria que o PY é a anti-famiglia.

A abertura é visível na porosidade que marca o PY, no modo como, a cada evento, diferentes artistas se agregam. E também na maneira como o grupo lida com este ir e vir de outros, aceitando a diferença como parte de si, a ponto de sua identidade estar em contínua mutação. “Metamórfico” e “camaleônico” dirá o PY sobre si mesmo. E a metamorfose, faz bem ressaltar, é um dos trunfos da ZAT.

Estruturas rizomáticas, isto é, que atuam como multiplicidade acentrada não-hierárquica, bandos são metamorfoses da máquina de guerra. Logo, o PY, além de ZAT, pode ser visto como máquina de guerra. Mas que tipo de guerra? Não aquela feita com fuzis e granadas. E sim as que travamos armados com o pensamento, em torno de valores.

O objetivo da máquina de guerra é o estabelecimento de linhas de fuga criativas, a composição de espaços onde os fluxos circulem livremente. Ao explorar territórios e construir alternativas ao circuito institucionalizado do sistema de arte, com o qual não deixará de comunicar-se, o PY trava sua guerrilha por uma nova realidade.

Barca
Franz Manat - Bandeira



Ernesto Neto

Julia Csekö - Hibrido passageiro #1

Hibrido passageiro #2Pedro Varela - desenho sobre paisagem


Julio Callado - A volta dos golfinhos
Carol Ponte



Joana Traub Csekö - Continuum
Daniel Murgel - O Curador

Gabriela de Saboya e Katia Rosa - O espetáculo da sociedade


Slot - Só Slot expulsa Gestalt das pessoasDaniel Bardusco




Daniel Toledo - À deriva


Cris Borzino

Carmen Riquelme - Eu quero é casar!


Cleantho Vianna - Respire
Cadu D´Oliveira - Porco
Cadu em momento íntimo com o monitor
Ana torres - Atirador


Raissa Lond e Natália Wartz
Marta Jourdan e Maria Laet
Camila Rocha - Navegar é preciso, viver não é preciso

Cris Apovian


Paulagabriela


David Cury

Artistas

Passageiros ilustres

Ricardo Ventura - I´m afraid of americans

Glaucia Mayer - Bolas azuis

Cris almiran e Khalil Sharif - Desocupação



Leonardo Ayres - Vou livre

Passageiros
Daniel Lannes - pirulitos


Py ação,

A cultura é o que transforma o mundo. Grandes manifestações como a Bossa Nova, a Nouvelle Vague ou a Arte Povera, são alguns exemplos. Quando elas chegam ao grande publico, já transformando o modo de ver o mundo, chegam com uma grandiosidade que impressiona. Porém em sua origem singular estava um pequeno grupo de pessoas que se reunia com interesses políticos, estéticos, culturais comuns e muita vontade de agir e criar contexto para aquilo que acreditam. Muitas vezes até sem saber exatamente no que acreditam mas conscientes da potencialidade de sua própria intuição, vontade e força.

No inicio de 2005, fui convidado por duas jovens artistas que haviam trabalhado no meu studio para uma exposição inusitada que elas e outros estavam organizando num lugar muito longe do meu cotidiano carioca, em Itaipu, Niterói, … bom, vamos lá! Aproveitamos para pegar uma praia em Itacoatiara, e finalmente chegamos, no fim do dia, depois de nos perdermos um pouquinho aqui e ali. Valeu a pena! De repente estávamos num conjunto de quatro casas que ocupavam ritmicamente um mesmo terreno. Estas casas recém construídas ainda estavam em estado de trânsito, limpas, "no osso", isto é, sem assoalho, ladrilhos, pintura. Suas paredes eram puro reboco na cor cinza do cimento. Incrível! E lá estava acontecendo uma mostra com altos e baixos como em qualquer coletiva mas com uma media surpreendente. Parecia que estávamos num inesperado museu indo de uma sala para a outra. Foi uma exposição/evento que durou um ou dois dias. Ali nascia o grupo Py.

Outras mostras Py foram se sucedendo, como py= X², pyneo, todas em Niterói.

Formado por jovens do Rio e de Niterói, sendo o Rio a metrópole, é claro que o destino natural do Py seria atravessar a ponte para acontecer no Rio. Mas como fazer isso? Novamente o improvável, fazer um evento numa barca.

Durante um sábado aconteceu o evento / manifestação / exposição do Py dentro de uma das barcas da Cantareira. Este foi chamado pyrata. Uma das barcas foi tomada por uma bandeira e por uma legião de artistas , eu incluído, com trabalhos performances, dança …enfim uma pluralidade de manifestações artísticas, fazendo durante um dia, por várias vezes, o caminho Rio-Niterói-Rio, deixando o publico comum, em trânsito pela Baia de Guanabara, perplexo com o inesperado, assim como a classe artística ligeiramente pasma com a imprevisibilidade do grupo, sua capacidade de produção de eventos e da qualidade artística do material exposto.

O Py se manifesta como grupo aglutinando outros. Assim como eu, vários artistas fora do núcleo principal , de diferentes idades e presença no bolo cultural carioca, também foram convidados a participar deste evento. Também aconteceu assim no seu mais recente ato, o PyLar. Definitivamente a atividade do Py tem sido uma importante vibração nas artes plásticas no Rio de Janeiro. Sua qualidade mais marcante é acreditar que a arte pode acontecer em todo o lugar, para além de Museus, Instituições e Galerias. Não acredito que seja uma critica a estes lugares clássicos, mas a demonstração de uma vontade que transborda as fronteiras convencionais do cotidiano artístico, mostrando que todos estágios do acontecimento artístico, criação, produção e veiculação, podem acontecer ao mesmo tempo, sob a mesma pele!

Não sei exatamente qual a próxima ação do Py, mas certamente vai surpreender e quero estar por perto dela, seja dentro ou do lado.

Aos vivos,

Ernesto Neto


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