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PyLAR

OCUPAR, PRODUZIR, RESISTIR

A Resistência Caseira

Qual a relação entre uma palavra de ordem do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e uma exposição de artes visuais cuja característica principal é o fato de dar-se em uma casa, em um lar, e que toma como ponto de partida para o pensamento artístico esta particularidade?

A adoção do lema “ocupar, resistir, produzir”, em primeiro lugar, confere à exposição PYLar uma dimensão política inequívoca. Diante do risco, sempre presente, do aviltamento da arte à condição de mero veículo de ideologias, é proveitoso lembrar a célebre frase de Aristóteles: “O homem é, por natureza, um animal político”. Fala-se aqui da necessidade humana de associação em vista de um bem comum. Não compactuemos, pois, com o aviltamento da política.

A aparente contradição entre o caráter público de um amplo movimento político e a esfera íntima, privada do lar, cujo efeito em nosso caso tangencia o irônico, resolve-se com certa facilidade, creio, se considerarmos a idéia de micropolítica formulada por Felix Guattari: o entrecruzamento necessário dos vetores molares (em referência ao nível macro) e moleculares (micro) para a constituição de forças autônomas no campo da economia subjetiva - o campo da produção de idéias, da arte, do desejo.

O diagnóstico passa longe da novidade: ser artista no Brasil é navegar sobre um leito limitado pela indigência institucional - regra histórica que as exceções apenas confirmam - e pelos desígnios do mercado, com sua lógica própria. A terceira margem deste rio, para prosseguirmos na metáfora fluvial, não é o isolamento nem a impotência.

A velha luta por corações e mentes, não com o objetivo de capturá-los, mas pela possibilidade de surpreendê-los, lançá-los em direções insólitas, no avesso da contracorrente. Eis o caráter político que, primordialmente, nos interessa na arte.

Curiosamente, o termo economia deriva das raízes gregas oikos (casa) e nomos (administração). Nada mais adequado. A ortopedia das subjetividades começa em casa.

Seja bem-vindo, estranho!

Rodrigo Morais

José Damasceno - Oficina